sábado, 11 de dezembro de 2010

Homenagem ao centenário de nascimento do Poeta da Vila - Noel Rosa

Palpite infeliz, interpretada por Aracy de Almeida.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Dia Nacional do Samba

O dia 02 de dezembro é comemorado o dia nacional do samba. A data simbólica foi institucionalizada em 1963 pelo vereador da cidade de Salvador Luis Monteiro da Costa em homenagem a visita de Ary Barroso a capital baiana, uma justa homenagem a esse gênero musical que carrega consigo grande valor simbólico.

O texto a seguir é uma compilação da minha monografia de bacharelado do curso de Geografia, " Elementos das territorialidades do samba em Londrina",  no qual faço um resgate espaço-temporal da gênese do samba urbano carioca.

O samba é controverso em relação a sua gênese, alguns estudiosos sugerem que ele chegou da África, outros dizem que a sua gestação de deu no Rio de Janeiro no inicio do século XX, muitos sugerem que foi na Bahia, mais é evidente que as suas características são de matrizes africanas até a sua constituição no Brasil.

A palavra samba deriva do dialeto angolano (semba) que quer dizer umbigada, o (Sam) dar e (ba) receber. O samba no Brasil era caracterizado ainda apenas como dança de umbigada com elementos das religiões afro-brasileiras, foi muito praticado nas senzalas, nos arraiais, festas, quilombos.

A partir da população negra advindas principalmente da Bahia que o samba permeia no cenário urbano carioca, a migração dos baianos para o sudeste ocorreu a partir da revolta dos Maleses (negros mulçumanos) em 1835 na Bahia no qual vieram para a capital federal e para as fazendas de café do Vale do Paraíba no Estado de São Paulo, que diante da decadência do café, acabaram por migraram para o Rio de Janeiro.

Com a reforma Urbana no Rio de Janeiro as populações menos abastadas foram retiradas dos cortiços do centro da cidade e deslocadas para os morros e subúrbios o samba vai se consolidando de maneira mais efetiva na cidade nova especificamente na Praça Onze, onde morava uma certa baiana chamada tia Ciata, a designação tia vem pela relação que ela tinha com o Candomblé, religião afro-brasileira, na qual ela exercia a função de babalaô-mirim ( auxiliar direto do pai ou mãe de santo).

Toda a efervescência cultural na casa da tia Ciata faz eclodir o Samba no Rio de Janeiro, sendo o principal reduto a Praça Onze. A casa da tia Ciata tinha uma divisão estratégica, pois nesse período das primeiras duas décadas do século XX o samba era marginalizado, perseguido pela policia, por isso a casa era constituída com características um espaço de contra poder das autoridades.

A importância cultural que a casa da Tia Ciata exerceu na constituição do samba urbano fica evidente, pois foi de lá que saiu o primeiro samba gravado do Brasil “Pelo Telefone”, sendo motivo de muita discussão em relação ao seu registro. A grande questão é que os sambas eram produzidos de forma coletiva, ou seja, por todos que freqüentavam a casa.

O samba Pelo telefone fez muito sucesso no carnaval de 1917, sendo muito apreciado pelos foliões que freqüentavam os ranchos carnavalescos. A estrutura musical desse samba era amaxixado, fato também que gerou grande discussão se realmente o Pelo telefone é de fato samba, diferente dos sambas do Estácio de Sá, local do surgimento da primeira escola de samba que caracterizavam sambas sincopados.

Em todo esse contexto de formação do samba como gênero musical e de elementos culturais constituintes nas primeiras décadas do século XX, no que tange uma perspectiva hegemônica, oficial das autoridades de uma oligarquia no sentido de um governo de poucos, voltado para as políticas da classe dominante do Rio de Janeiro o samba era visto de maneira marginal, sendo perseguido, no qual os sambistas eram considerados vadios.
O malandro do inicio do século XX é uma figura simbólica, sempre andava alinhado, as suas vestimentas eram caracterizados por ternos e sapatos brancos além do chapéu de palha, seu instrumento de intimidação é a navalha, e a sua linguagem tem um poder argumentativo que o leva a convencer as pessoas que acabam caindo em seus golpes. Outra característica importante do malandro que deve ser salientada é a jogatina, por exemplo, o jogo de cartas, roletas, tampinhas, sempre apostando e trapaceando, além da boemia, no qual trocava o dia pela noite, cantava sambas e bebia, ganhava a vida nas custas de golpes.

A figura do malandro faz parte do universo do samba, o sujeito avesso ao trabalho formal, muitos sambas cantam as proezas feitas pelos malandros como, por exemplo, Se você Jurar, lenço no pescoço, acertei no milhar, além de outros sucessos.

A década de 1930 tem um elemento político significante na historia do Brasil, o Estado Novo que foi instituído em 1937. Dentro dessa nova perspectiva política de governo o samba ganha importância no sentido de que com grande apreço popular o Estado necessitava utilizar desse gênero para exaltar a nova política vigente no caso a exaltação ao nacionalismo.

Nesse período então presenciamos a criação de muitos sambas que exaltavam a nação e ao trabalho compactuando com as idéias do governo em exaltar o nacionalismo, sambas como Canta Brasil, Aquarela do Brasil, Eu trabalhei, com características ufanistas indo de encontro com as políticas governamentais. Diversos sambistas que compunham sambas de malandro, em alusão a vida desregrada de boemia passam a compor sambas exaltando o trabalho, a nação, sendo a figura do malandro regenerado. Muitos desses sambistas não compactuavam com essa exaltação a nação, porém faziam esses sambas, pois eram remunerados pelas canções compostas.

Na década de 1950 o samba influenciado por outros ritmos passa por algumas transformações, mais não perde a sua essência, pois mesmo se ramificando não se para de produzir sambas falando sobre o cotidiano, do morro, de mulheres, de trabalho, pois todo esse processo é relacional e acontece ao mesmo tempo.

A ramificação em questão é a bossa nova, caracterizada por muitos como novo gênero ela carrega fortes elementos do samba, porém ela é hibridizada com elementos do jazz.
A partir desta consolidação o samba permeia o século XX, apresentando para o Brasil poetas e ícones como Donga, Sinhô, Ismael Silva, Noel Rosa, Geraldo Pereira, Cartola, João Nogueira, Zeca Pagodinho e muitos outros, além de grandes figuras de sambistas paulistas como Geraldo Filme, Adoniran Barbosa, Demônios da Garoa e Quinteto em Preto e Branco, Osvaldinho da Cuíca, além de outros. Dessa forma, este gênero musical se disseminou, atraiu e conquistou outras classes sociais, deixando o status da marginalidade no inicio do século XX, alçando o estrelato, construindo-se, inclusive, como expressão da brasilidade para o mundo.

Na década de 1960 e 1970 o samba aparece com importância no aspecto político social do país, na perspectiva de um mecanismo de luta social e cultural, evidenciando assim a tese de que o samba não é apenas um gênero musical, e sim um fato social e cultural.

As rodas de samba ocorriam nos subúrbios e morros cariocas e a partir daí surgem interpretes importantes como Beth Carvalho conhecida como Madrinha do samba, Clara Nunes interpretando canções ligadas às religiões afro-brasileiras, resgatando os elementos simbólicos da cultura negra, João Nogueira que teve diversas parcerias com Paulo César Pinheiro, além de Paulinho da Viola com a sua intima ligação com a Portela, hoje são nomes familiares no cotidiano da musica popular brasileira, pois se consagraram através da vivencia do samba.

Na década de 1970 surgi também uma turma na zona norte do Rio de Janeiro mais especificamente no bairro de Ramos subúrbio carioca, que posteriormente na década de 1980 veio a ser conhecido como pagode de fundo de Quintal, ou neo-pagode, principalmente pela inserção de um novo instrumento musical nas músicas, o banjo.
Dessa turma saíram nomes importantes que hoje fazem sucesso no mundo do samba como o Grupo Fundo de Quintal que desde o seu surgimento lançou diversos integrantes na carreira artística do samba, como Jorge Aragão, Arlindo Cruz, além de outros que não participaram como integrantes do grupo mais que surgiram artisticamente nesse período com o movimento do cacique de Ramos, como Zeca Pagodinho e Almir Guineto.

A partir desta consolidação o samba permeia o século XX, apresentando para o Brasil poetas e ícones como Donga, Sinhô, Ismael Silva, Noel Rosa, Geraldo Pereira, Cartola, João Nogueira, Zeca Pagodinho e muitos outros, além de grandes figuras de sambistas paulistas como Geraldo Filme, Adoniran Barbosa, Demônios da Garoa e Quinteto em Preto e Branco, Osvaldinho da Cuíca, além de outros. Dessa forma, este gênero musical se disseminou, atraiu e conquistou outras classes sociais, deixando o status da marginalidade.


LOVADINI, Mauricio. Elementos das Territorialidades do Samba em Londrina. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em Geografia). CCE – Universidade Estadual de Londrina, 2009.